A eleição presidencial mais acirrada desde a redemocratização fez com que potiguares e brasileiros espalhados em todo o Brasil ganhassem dinheiros em apostas na disputa entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). No Rio Grande do Norte, foram vários os casos de eleitores que faturaram alto com a vitória do petista. Em Jucurutu, por exemplo, um apostador estima que ganhou mais de R$ 1 milhão em apostas com carros, casa, animais, motos e dinheiro.
Na edição do último dia 25 de setembro, a TRIBUNA DO NORTE publicou a reportagem “Potiguares apostam carros e dinheiro em resultados das eleições deste ano” mostrando as movimentações tanto entre os norte-riograndenses quanto nas casas de apostas. Entre os ouvidos na matéria, as cobranças pela vitória já começaram e já estão sendo pagas.
Segundo Junior Lourenço, 49, empresário do ramo de automóveis da cidade de Jucurutu, as apostas começaram ainda no primeiro turno e havia uma série de vídeos gravados para comprovar as negociações. Algumas das negociações eram passadas em cartório ou “casadas” nas mãos de pessoas de confiança para ninguém se “quebrar” nas apostas. Ao todo, foram 10 apostas.
“Pessoal está pagando tudo bem direitinho. Ao todo, juntando troço, dinheiro, carro, moto, gado, casa, é avaliado em mais ou menos R$ 1 milhão. Apostei carro em cima de dinheiro, joias, foram várias. Ganhei casa também, que vale ‘num sei quantos mil”. Ganhei três carros pequenos e uma D20, foram 10 motos também”, comenta Lourenço.
Lourenço se autointitula “o maior apostador do Rio Grande do Norte” e seus vídeos viralizaram nas redes sociais. Ele chegou a fazer apostas com eleitores de Jucurutu, Triunfo Potiguar, Tangará, Natal, e com um empresário de Fortaleza. Este último perdeu 60 novilhas para Lourenço.
“As apostas foram passadas em cartório, outras foram casadas na mão de pessoas certas. Distribuí alguns prêmios pra minha família e pra um funcionário na minha fazenda.”, explica. No momento da entrevista, o potiguar ainda estava recebendo alguns pagamentos de apostas.
Ainda segundo Junior Lourenço, não fez campanha para Lula e se considera apartidário. A aposta no petista foi feita com base nas pesquisas eleitorais. Ele faz apostas também em eleições municipais. “Eu não tenho partido, não gosto de ninguém. Aqui em casa é uns pra um lado e outros pra outro”, disse.
Em Natal, um empresário eleitor de Bolsonaro surpreendeu por fazer várias apostas no petista Lula. Segundo o homem, de 50 anos, que não quis se identificar, parte das apostas já foram pagas e as outras já estão sendo cobradas aos amigos.
“Eu recebi só de uma pessoa até agora, faltam três me pagarem. Apostei com quatro amigos. Eu recebi R$ 500, apostei R$ 500 com outros dois e apostei com outro amigo R$ 200. Estou no aguardo”, disse. Segundo as informações do empresário, ele pagaria R$ 2.000 pra cada uma das apostas de R$ 500 e R$ 1 mil pela de R$ 200. No segundo turno, ele chegou a oferecer a um amigo R$ 200 pra encerrar a aposta, temendo uma virada de Bolsonaro. O amigo não aceitou. “Foi duro viu? Nunca pensei que ia ser tão apertado não”, completou.
As casas de apostas online também estavam com cotações abertas para a disputa presidencial. Na sexta-feira (28), as cotações para a vitória de Lula tinham retorno médio de 33,30 a 44%. O triunfo de Bolsonaro rendia até 187,50%.
Ex-bolsonarista ganha R$ 2 milhões no MA
Um empresário do Maranhão vai embolsar cerca de R$ 2,1 milhões após fazer várias apostas na vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Artu Oliveira, 45 anos, já recebeu cerca de R$ 1 milhão em dinheiro e bens das apostas.
Segundo ele, ao todo, foram 18 apostas feitas com várias pessoas, incluindo dinheiro, caminhão, caminhoneta, cavalo, carro e ouro. Em entrevista a um portal nacional nesta semana, Artu disse que acompanhou a apuração com “muita ansiedade”. “Quando a apuração mostrava Bolsonaro na frente, fiquei com muito medo. Quando Lula botou a dianteira, foi só alegria”, disse.
Foram vários os relatos de ganhadores de apostas em vários estados do País. Uma dessas apostas, inclusive, comoveu internautas e eleitores nesta semana num vídeo que viralizou. Um caminhoneiro apoiador de Lula, Ronaldo Lins, ganhou um caminhão de R$ 200 mil em aposta com um amigo bolsonarista, Hamilcar Dias Junior, mas recusou o prêmio e devolveu o veículo. O caso aconteceu na cidade de Tauá, interior do Ceará.
“Se eu tirar dele, é mesmo que eu está tirando do meu filho Ronaldinho. Eu não vou ser feliz com isso aqui, não. Pegue meu filho, é sua”, disse Ronaldo emocionado, ao devolver o caminhão. Os dois caminhoneiros são amigos há 26 anos.
“Eu esperava alguma ação dele por a gente ser amigo. Para ser sincero, eu esperava que esse carro ia voltar para mim, mas de outra forma, que ele ia facilitar um pagamento, porque eu não ia deixar de comprar um carro que já conheço para comprar outro. Mas não, ele pegou todo mundo de surpresa”, afirmou Júnior ao G1.
Ronaldo chegou a vencer outra aposta, em cavalos, e ordenou a um dos filhos que o valor fosse convertido em cestas básicas para doar na cidade.
Apostas não podem ser cobradas judicialmente
Apesar de populares e de vídeos virais em redes sociais, as apostas, em caso de não cumprimento por uma das partes, não podem ser cobradas em uma eventual demanda judicial, conforme publicou a TRIBUNA DO NORTE no último dia 25 de setembro. É o que informa o advogado Altair Rocha Filho, vice-presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil do RN (OAB-RN).
“Existe um dispositivo no Código Civil, o artigo 814, que afirma que as dívidas de apostas, sejam jogo, loterias, que não sejam oficiais, como a Mega Sena por exemplo, não podem ser cobradas judicialmente. Agora isso não impede que se o cara quer pagar não é nenhum ilícito. Mas o cidadão não vai poder cobrar judicialmente essa situação, é um fato irrelevante tanto para a justiça eleitoral quanto para comum”, disse.
Ainda segundo o advogado, mesmo em casos de registros com vídeos, fotos e até contratos firmados em cartório, a aposta não será reconhecida pela justiça. “O reconhecimento de um documento particular só vale entre as partes, então, em tese, essa pessoa não teria como adicionar o judiciário para cumprir isso não. É um documento particular que não tem força com base legal para que a pessoa entre em juízo para cumprimento. É diferente de um contrato de compra e venda, de permuta, de cessão. É o princípio da boa fé e da confiança”, aponta o presidente da Associação dos Notários e Registradores do RN, Airene Amaral Paiva.
Texto: Ícaro Carvalho
Foto: Alex Régis
Fonte: Tribuna do Norte